Este ano se comemora os 120 anos de nascimento da escritora Cora Coralina, que nasceu Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, na Cidade de Goiás em 1889 e faleceu em Goiânia em 1985. Em sua homenagem o Museu da Língua Portuguesa está exibindo a mostra " Cora Coralina: coração do Brasil", que ficará em exibição até o dia 13 de dezembro e eu fui ver. A mostra é pequena para a obra de Cora Coralina, pseudônimo que adotou a Aninha, mas traz muito do universo de Mulher simples, doceira de profissão, que teve uma vida bem mais agitada do que a média das mulheres do seu tempo, e que apesar de ter vivido longe dos grandes centros urbanos, e mesmo da educação formal, produziu uma obra poética muito rica. Falando sobre quem é Cora Coralina, ela dizia de si: "Sou mulher como outra qualquer. / Venho do século passado / e trago comigo todas as idades. (...) Sou mais doceira e cozinheira / do que escritora, sendo a culinária / a mais nobre de todas as Artes: / objetiva, concreta, jamais abstrata / a que está ligada a vida e a saúde humana."
A exposição ocupa o 2º andar do museu e é composto por lindas imagens do universo pessoal de Cora (fotos de fachadas de casas de Goiás Velho, paredes de adobe, o mítico casarão da ponte e os doces feitos por ela) e trechos de suas poesias. Tem um vídeo com declarações da própria Cora Coralina e documentos inéditos, como os manuscritos dos seus diários, originais de seus livros e correspondências trocadas com grandes escritores brasileiros, como Jorge Amado e Drummond.
É de Drummond, aliás, um dos textos mais bonitos sobre Cora, publicado no "Caderno B" do "Jornal do Brasil" de 27de dezembro de 1980, e que está na mostra, onde ele diz que "Cora Coralina, para mim, é a pessoa mais importante de Goiás, mais do que o governador, as excelências, os homens ricos e influentes do Estado. Entretanto, uma velhinha sem posses, rica apenas de sua poesia, de sua invenção, e identificada com a vida como é, por exemplo, uma estrada."
Eu trago ela a vocês hoje, por meio dos seus versos. Abraços, Tássia Regino
Alguns versos soltos da exposição:
"Entre pedras que me esmagam
Montei a pedra rude dos meus versos"
"Eu sou estas casas encostadas
Cochichando umas com as outras"
"Eu sou a velha mais bonita de Goiás"
"No acervo do perdido,
no tanto do ganhado
está escriturado:
- Perdas e danos, meus acertos.
Lucros, meus erros"
ASSIM EU VEJO A VIDA
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.